terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Código Apócrifo

No centro de tudo que existe e do que inexiste, repousa Deus. Na realização de sonhos minúsculos do indivíduo numa situação rotineira ou na força que impede duas galáxias de se colidirem sua força se faz presente. Deus se molda conforme nossas necessidades e se agiganta frente a nossa incompreensão sobre o que achamos não ter o alcance, ou até no que não nos é permitido entender.

Na dúvida que nos acompanhará até o último lampejo da existência, a única e garantida tábua de salvação, quer ao mesmo tempo nos fazer entender o papel secundário que nos é confiado como criatura moldada aos interesses de seu criador ou o livre arbítrio para desafiar toda e qualquer força do universo.

Nas entrelinhas do código da existência humana cabe Deus. E damos a este Deus atributos ora divinos, ora humanos. Se Deus sobreviverá à parte da ótica humana, este mesmo código poderia nos esclarecer. Deus permite estar em tudo, não faz objeções em ser citado em toda sorte de eventos, cultuado como figura máxima de todas as crenças, envolvido em disputas sangrentas eternizadas em livros que ganham novos significados a cada dia, através do labirinto das palavras reforçadas pelo inesgotável fascínio da humanidade em cultuar as diferenças e a predileção pela própria superioridade.

Instinto de sobrevivência intelectualizado pela erudição? Sobre o piso de toda dissertação possível ainda se sustentará um número infinito de outras proposições. A raiz da crença nos parece hoje tão inalcansável e enevoada pela diversidade, que novos tipos de tolerâncias tem se moldado a tais circunstâncias. O fio tênue desta linha de pensamento nos conduz a uma interessante conclusão: até um cético tem direito ao perdão divino.

domingo, 15 de agosto de 2010

O Artista

O artista é o único ser capaz de criar em si mesmo um personagem. Em alguns a arte os toma de assalto já nos primeiros minutos de vida, em outros só é despertada muito tempo depois e em outros jamais.

No seu jeito peculiar de ser, o artista julga compreender as profundezas da alma humana, e ser porta-voz da chama acesa, que difere nossa espécie de todas as demais.

A maioria dos artistas tem o ego inflado que o torna incapaz de reconhecer outro artista. E os que são capazes, fingem que não. O artista quer jogar sua arte para o mundo e esperar o reconhecimento, pois entende o quão importante é o seu papel. A arte não precisa ser reconhecida, o artista sim.

Há alguns que pensam ser artistas, e se convencem tão bem disso que são capazes de também convencer sua platéia. Há artistas infiltrados na sociedade desenvolvendo tarefas cotidianas que nada tem a ver com arte.

Há os que dissecam a arte, tentando compreendê-la a luz do intelecto, traçando diretrizes e catalogando as vertentes, buscando mapear o funcionamento desta gloriosa atividade humana.

Alguns perseguem a arte, e acabam encontrando sucesso. Outros perseguem o sucesso e passam longe da arte. O sucesso tem o seu preço, quase sempre muito alto, e dizem que ele sacrifica a arte. Mas a arte não pode ser sacrificada, pois se for sacrificada já não é mais arte.

O artista chama sua arte de trabalho, pois não quer ser confundido com um vagabundo. Mas um vagabundo pode ser muito mais artista do que um trabalhador. Por isso quem trabalha, vive e consegue se sustentar da arte é, na verdade, o maior de todos os artistas, ainda que corra o risco de não ser propriamente um artista.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Indústria de Todas as Coisas

Durante algum tempo, no ápice de minha arrogância, achei que as coisas criaram-se por si mesmas. Ignorava a Indústria de Todas as Coisas. Nada se cria do nada. Até a ínfima realização tem um autor.

Tudo que é líquido, sólido, gasoso, inodoro, transparente, metafísico, importante, irrelevante, tudo é industrializável. E antes, bem antes destes conceitos existirem, a indústria já estava lá, de olho no que potencialmente todas essas coisas eram capazes de gerar: seus produtos e subprodutos.

Onipresente e onisciente julgou que nada é inteiramente inútil ou descartável. Nem era preciso fazer com que todos concordassem, pois para estes também foram criada a indústria dos discordantes, e foi definido que não importa a sua coordenada, e ao contrário de que muita gente pensa, a indústria não vai monitorar ninguém.

Dizem que a Indústria criou nosso desejo de ser diferente e de até se rebelar contra o que nos criou. E a liberdade também foi criada por ela.

Sei, que na hora final quando a Indústria mirar sua flecha certeira, pode ser que ocorra me desviar. Ao fazer este movimento, talvez acerte em alguém inocente. Sabendo que para a Indústria não existe ninguém inocente, posso presenteá-la com um produto que poderá ser engarrafado e rotulado, mas que corre o risco de nunca ser comercializado por falta de mercado. Um subproduto do arrependimento chamado remorso.

domingo, 8 de agosto de 2010

Kalil* e o deserto

(o nome do personagem é uma homenagem ao fabuloso escritor e artista Kahlil Gibran)



1ª parte


Kalil abriu os olhos e o sol do deserto estava no meio do céu.

Ofuscada a visão, cerrou as pálpebras, virou o rosto um pouco para o lado, a fim de poder novamente abrir os olhos em outra direção. Neste momento, percebeu o calor queimando-lhe a pele nua. Assustou-se porque notou que estava completamente nu, deitado na areia que começava a esquentar.

Atordoado e confuso, nada lhe ocorreu por breves instantes. Sendo que o raciocínio não formava idéia alguma, o instinto de sobrevivência tomou conta. Apenas uma vastidão infinita preenchia o horizonte vazio por todos os lados que olhava, monotonia  apenas quebrada por leves ventos que jogavam para o alto porções de areia, não deixando o deserto ser um quadro estático. Teve que se levantar, e notou que nem pedras havia naquela paisagem. Estava completamente indefeso e perguntou a si mesmo se era possível manter-se vivo naquelas condições.

Agachou-se e sentiu, que embora a areia quente queimasse as plantas dos pés, ainda era suportável.  Posso sair caminhando até encontrar alguém que possa me ajudar. Foi este o seu primeiro impulso. Atravessou algumas dunas e a paisagem não se modificava. Deduziu que talvez estivesse no centro de um grande deserto. Estava mais perplexo que desesperado.

Kalil ponderou: - Talvez tenha força para caminhar por um dia inteiro, e meu corpo suporte a ausência de água e comida por algum período, mas eu preciso pelo menos saber para onde caminhar. Não adiantaria caminhar a esmo, seria o mesmo que andar em círculos, e não havia indicação, nenhuma referência, uma vez que no deserto, a poeira e o vento causa-nos vertigem e todos os lugares parecem exatamente iguais.

Ele poderia gritar, praguejar, falar aos quatro ventos do seu infortúnio, levantar a voz para o céu, clamar por piedade, se desesperar, chorar ou apenas fazer uma oração.

Mas não lhe ocorreu fazer nenhuma destas coisas.

Kalil aceitou seu destino calado, pois naquele momento qualquer coisa seria inútil. Quando findou-se a tarde deste dia e a noite se aproximava, ele começou a entender o grande vazio que representava estar só no meio de um deserto e o quanto estava indefeso e inacessível num lugar tão inóspito. Tentou ao menos reconhecer a beleza do entardecer, nas tonalidades avermelhadas que tomavam conta do horizonte. Mas essa beleza também não encheu seus olhos.

Milagrosamente ele havia escapado do calor escaldante do dia, mas quando a noite começou a soprar os ventos frios, pela primeira vez neste dia pensou na morte. Será muita sorte, se pela manhã ainda estiver vivo, pensou. E à medida que o tempo esfriava, ele se exercitava para não congelar, mas chegou um momento em que exausto, encolheu-se para tentar dormir um pouco e algo o reconfortou por um breve tempo antes de adormecer. Pensou que tudo aquilo talvez não fosse mais que um longo pesadelo, bem real, mas apenas um pesadelo. Era só dormir, e quando acordasse tudo estaria bem de novo.

E dormiu sonhando acordar em casa novamente.


2ª parte

Kalil abriu os olhos e o sol do deserto estava no meio do céu.

Uma leve decepção tomou conta de sua alma. Mas estar vivo já era um consolo. Notou que sua pele não estava ressecada pelo frio ou pelo calor da exposição ao dia anterior. Ainda se sentia com forças para continuar. Mas ao contrário do primeiro dia, olhou fixamente durante muito tempo o sol, como quisesse ficar cego. Ora, estar no deserto, nu e sozinho é o mesmo que caminhar nas trevas. A visão não serve mesmo para alguma coisa aqui. Havia uma ponta de ressentimento nesta constatação. Mas quando olhou para as dunas no horizonte sua visão não estava queimada, e ocorreu-lhe que o sol que olhara fixamente poderia não ser exatamente o sol.

Kalil mais uma vez ponderou: - Passei o dia de ontem tentando encontrar uma forma de sair deste lugar, na minha doce ilusão, achei por bem esperar que tudo isso fosse apenas um pesadelo. Raciocinei como um indivíduo frente a natureza do momento que se apresentou e não fiz o questionamento correto: como cheguei até aqui? Como era minha vida até anteontem?

Tentou se lembrar se esforçando ao máximo, e uma imagem  rápida de verdes terras onde passara sua infância veio à sua mente. Subitamente a areia do deserto se esverdeou por menos de um segundo. Kalil se assustou. Olhou novamente fixo para o sol em busca de mais algum sinal. Mas a paisagem não mudou.

Sentou-se na areia e olhou seu corpo nu. Pensou como poderia estar e como chegara até ali. Até se esqueceu que um dia teve roupas, embora isso nem o chegara a perturbar. Começara a lhe parecer que tinha sido sempre assim. Notou que aquela situação não o afetava tanto, quanto no dia anterior. O deserto imensurável a se desenhar à sua frente, infinito e impassível, quanto mais tentasse atravessá-lo.

Ao entardecer Kalil olhou o horizonte avermelhado e lembrou do cheiro de terra molhada. Fechou os olhos e quis sentir este cheiro, mas não encontrava em sua mente aonde ele estava. Compreendeu que havia algo realmente muito errado, e acometeu-lhe uma tristeza vindo de um vazio monstruoso que fizeram brotar lágrimas de seus olhos fechados. Ao tocarem o chão as lágrimas evaporaram e Kalil sentiu o cheiro da terra molhar.

Ainda antes de anoitecer, ouviu alguém chamar seu nome. Chamaram por mais de três vezes. Parecia que fazia muitos anos que ninguém o chamava. Kalil demorou a reconhecer o próprio nome pronunciado em um outro idioma.




Osmi Vieira - Agosto 2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A régua para medir diferenças

Para além das crenças, um indivíduo é apenas um indivíduo. Interessa o seu olhar singular e o quanto ele consegue escapar da emolduração massacrante imposta pelas vertentes diversas, o quanto esta mesma pessoa pode contra o labirinto de possibilidades que se descortina a todo momento, ou ao menos, a capacidade de enxergar que isso existe, de fato.

As manifestações artísticas, o trabalho mental, o trabalho braçal, enfim, todas as realizações humanas estão calcadas nas diferenças entre as pessoas. O sonho utópico de igualdade esbarra no quanto cada um acha que merece. Este merecer é baseado na interpretação individual e é uma via de mão-única rumo a realização pessoal.

Afinal, o que queremos? Queremos ter o poder sobre a tal verdade e manuseá-la e descartá-la ao nosso modo. É assim que tudo começa, por isso é tão perigoso chegar perto demais das pessoas. Inconscientemente criamos o nosso personagem para atuar, herói ou vilão, nos armamos deste arsenal de palavras, atitudes e ações nem sempre condizentes com estas mesmas palavras às quais atrelamos nosso modo de ser.

Isto são apenas constatações um pouco além do foco do certo e do errado, conceitos prontos para serem discutidos. As atitudes extremadas denotam a tendência cíclica da imaturidade presente na conduta humana desde sempre.

Evolução nos envoca um conceito longínquo de entendimento de quem somos, e o que podemos fazer, e dentro desta engrenagem, é comum perdemos a noção do todo.

Culpa-se no mundo moderno, a mídia, por esta banalização de fundamentos, mas vejo apenas a potencialização destes antigos ecos, antes restritos a pequenos grupos. Coisas importantes perdendo lugar cada vez mais para as grandes e verdadeiras prioridades no desenvolvimento do entendimento humano pode ser a forma com que tratamos essa degradação.

Acredito que a diferença cria novos parâmetros, e mediante ao nosso grau de imersão, podemos ir criando réguas para medir estas diferenças. Tudo isso se afunila na idéia de que as coisas mudam, e quem sabe, alguns de nós, tenha a coragem de abrir mão de nossas crenças por outras, com a certeza de não estar apenas trocando um deus por outro.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Estatística sobre as estatísticas: uma idéia nada original

Proponho fazermos uma estatística para sabermos um pouco mais sobre estas pessoas anônimas, que ao figurarem nesta pesquisa não serão mais, assim tão anônimas, e estabelecermos novos conhecimentos acerca da natureza destas pessoas as quais entregamos nossas valiosas informações de mão beijada, seus interesses, classes sociais, aspirações ideológicas e por aí se vai.

Este trabalho, que julgo não ser nada fácil, abrirá um discussão. Quem fará esta pesquisa? Se os próprios pesquisadores a fizerem correremos o risco de ter uma pesquisa viciada e altamente tendenciosa. Todos eles serão idôneos, íntegros e dedicados, pois os institutos de pesquisa não deixariam qualquer um representá-los.

O máximo que esta pesquisa revelaria de real, seria o time que cada um torce, a novela ou o filme ou os artistas preferidos. De certa forma esta empreitada não serviria para muita coisa no mundo prático, mas revelaria o lado humano destas pessoas, que aqueles que enxergam conspiração em tudo, chamam de serviçais dos mandantes do mundo.

Mas até que ponto é importante sabermos o lado humano de um pesquisador? Nem sempre é divertido inverter os papéis. É claro, este texto é apenas uma brincadeira e, alheio a minha vontade, ele pode estar a serviço de alguma pesquisa ou estatística.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O desvio para o sensacional

Os adjetivos exagerados estão na ordem do dia, desde que o poeta disse que tudo era divino e maravilhoso. No fundo tudo é uma questão de semântica, dos variados significados que as palavras podem ter (ou não). Mas o perigo está um pouco mais perto, pois descobriram um novo significado para "contexto". O pote de ouro no fim do arco-íris.

O fantástico deveria causar assombro e o maravilhoso, um brilho nos olhos. A novidade pediria um pouco de cautela. Puro instinto de sobrevivência.

Não é questão de teimosia nem tampouco tradicionalismo. Não tenho nenhum problema com o momento em que a história de nossas vidas se desenrola. Eu e vocês, meus contemporâneos, neste exato momento, estamos muito ocupados com nossos novos jogos de guerras pessoais, e em todo o circo de nossa existência não sobra muito espaço para mirarmos o vazio fora do âmbito da contemplação.

Cabe a cada um eleger seus afetos, mas quando o cardápio nos apresenta um tanto quanto pobre, o desvio para o sensacional encontra aí sua maior brecha. Os sentidos dos desavisados entende a entrada neste corredor de possibilidades mil, e enxerga de lado, o que deveria ser visto de frente. Interpretações errôneas, mistificações e abstrações encontram ecos nesta premissa. Quem tem coragem duvida do induvidável e sorri para o inatingível, quem não tem, se maravilha com bugigangas, e passará desapercebido deste grande espetáculo que é estar vivo.

sábado, 31 de julho de 2010

Memórias do Futuro

Já algum tempo vivemos no futuro, desde que esta coisa chamada "futuro" foi inventada, penso que logo após o final da idade das trevas que durou quase mil anos, ou se preferir, a "idade do gelo humano". Mas só recentemente, de uns 50 anos para cá, isso se tornou mais evidente.

Agora no século XXI, todos já se sentem no futuro.

Mas de onde vem o saudosismo que valoriza tanto o passado e olha com cinismo e artificialidade o que vem à nossa frente? O futuro repete o passado, então invertendo, nosso passado já continha um futuro. Alguns enxergaram isso e foram visionários, e em toda essa retórica chata não há espaço para o presente.

Mas é sobre o futuro que falo. Um futuro em constante mutação. Apenas nesta nossa primeira década do século XXI, acredito que ele já tenha mudado inúmeras vezes, pois tem tanta gente acreditando que este século vai passar muito rápido, elevando ao limite aquela impressão que todos tem, e eu nunca entendi porquê, de que o tempo passa cada dia mais rápido.

Então, graças a toda tecnologia a favor de nosso conforto, o futuro do futuro será um tempo fugaz ao extremo, e a raça humana atingirá uma longevidade beirando a imortalidade.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A pergunta que só você é capaz de fazer

"Não existe pergunta estúpida. Quem pergunta, quer respostas". Esta frase não é minha, pertence a Carl Sagan. Quem conhece, sabe da importância de Carl e o legado que deixou para todos nós. Esta frase está no seu livro " O Mundo Assombrado Pelos Demônios", e, desnecessário dizer que embora fosse um cientista, famoso por despertar a curiosidade de leigos pela ciência, foi sobretudo uma pessoa que, inteligentemente soube transformar a linguagem complexa de feitos humanos numa trajetória em busca das estrelas. Trajetória que seria a coroação de todos os esforços humanos no sentido de manter contato com vidas extra-planetárias, e quem sabe, responder a maior de todas as perguntas: estamos sós no universo? O próprio Sagan conclui que seria um grande desperdício se fôssemos os únicos na vasta imensidão do cosmo.

No meu ponto de vista, é na ficção científica que grandes autores-cientistas, como Sagan, Isaac Asimov ou Stanislaw Lem entre outros, exorciza suas vontades, devaneios e esperanças acerca de assuntos cruciais.

Então, qual é a pergunta que só você é capaz de fazer?

Talvez seja o que diferenciará uma pessoa da outra, neste período de transição ao conhecimento, que torço para que seja verdade.

O advento da tecnologia nos trouxe todas as respostas. Qualquer um pode se inteirar de qualquer assunto, dos mais simplórios aos mais complexos, exprimir de forma magistral sua opinião, ser tudo e todos ou ser ninguém neste simulacro do mundo chamado real.

A capacidade de escolha é infinita, e o acesso não encontra precedentes na história.

Haverá um tempo em que este estado de coisas se acomodará, e quando a poeira baixar e até mesmo atravessarmos a fronteira do monopólio da informação (há quem acredite que já fizemos isso), restarão mais perguntas do que respostas.

E, recorrendo ao popularesco, finalizo com minha pergunta: "falei besteira?"

Harrisongs

Texto escrito em 2008, por ocasião dos 7 anos do falecimento do ex-beatle George Harrison, para um evento da banda Beatlemania.


Há exatos 7 anos, em 29 de Novembro de 2001, o mundo perdeu um dos maiores músicos do século XX, quiçá da história: O lendário guitarrista dos Beatles, George Harrison. George representou, sem  dúvida, o equilíbrio entre os egos/gênios  de John Lennon e Paul McCartney, e sua influência na obra da banda é inequívoca e tão decisiva, que é difícil de imaginar o grupo sem sua presença.

A trajetória de Harrison se confunde com a trajetória do Beatles, e o fato dele ter encontrado espaço, na mesma banda em que já havia dois compositores talentosos, individualmente ou em dupla, que disputavam palmo a palmo os holofotes, é motivo de nosso mais profundo reconhecimento.

Mas uma coisa sempre fica clara quando se trata dos Beatles: suas idéias e talentos casavam tão bem que a força da obra, conscientemente ou não, era o uníssono de 4 caras com uma musicalidade que se completava, numa sintonia de fazer inveja a qualquer um.

O próprio George citou que, quando John ou Paul lhe davam espaço para os solos em suas composições, ele tentava fazer algo sempre à altura. Era uma dura missão, mas ele a cumpriu de maneira magistral. Exemplos não faltam, em “All My Loving”, seu solo é quase uma continuação da melodia, enquando que em “A Hard Day’s Night”, sua breve interferência é um capítulo à parte. Nesse ambiente, seu trabalho como compositor individual - já que inexistentes as parcerias com a dupla Lennon/McCartney, pelo menos na obra gravada dos Beatles como banda - foi amadurecendo e ganhando corpo. Sua primeira canção relevante está no disco Help!: “I Need You” é uma balada belíssima de uma simplicidade absurda, e que cativa à primeira audição. George atinge o seu ápice como compositor no disco Abbey Road, com “Here Comes The Sun” e “Something”, colocando-se em pé de igualdade com Lennon & McCartney.

A essa altura, sua inspiração está num momento especialmente iluminado, e tão intensa, que compõe dezenas de novas canções, as quais viriam a fazer parte do seu antológico disco  triplo “All Things Must Pass”, lançado após a separação da banda. O estilo marcante permeou toda sua carreira artística, com enfoque nas questões filosóficas, religiosas e espirituais.  Harrison se encantou com o universo oriental da música indiana, e influenciou, de certa forma, o Ocidente a olhar para aquele mundo um pouco diferente do nosso.

O seu legado permanecerá conosco, e com todos aqueles que se encantam e se encantarão com a obra deste eterno Beatle, talvez o mais espiritualizado deles, que nos deixou uma obra de inestimável valor.

A Beatlemania, nesta noite, pede licença à memória de George para lhe prestar uma singela homenagem, talvez, como a sua obra, de gigantesca simplicidade, e por isso mesmo tão difícil de executar, no intuito de manter viva a chama desta grande pessoa que habitou este planeta, que cumpriu sua missão tão bem, às vezes sarcástico, às vezes profundamente espiritualizado, às vezes messiânico, mas, sem sombra de dúvida, sempre transbordando humanidade e amor a cada nota que tocou.





Texto: Osmi Vieira / Colaborou: Auro Haruki

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Auto-Conspiração: e se eu não for a pessoa que sempre achei que fosse?

Conheço gente que acorda, olha o reflexo no espelho e diz: "Bom-dia!". Alguns referem-se a si mesmos na terceira pessoa do singular e travam diálogos levando ao pé-da-letra aquela máxima sobre conhecer-se a si mesmo. Outras cultivam hábitos herdados sabe lá de quem, pois todo mundo vai se "aculturalizando", absorvendo, modificando toda a sorte de coisas, formando e transformando pensamentos novos e antigos.

Admiro a inteligência simples e intuitiva daqueles que conseguem perceber as revoluções diárias da natureza, no qual todo ser humano é parte, e sobretudo daquela pequena e importante diferença que qualquer um pode fazer dentro de seu mundo. Mundos dentro de mundos.

Confesso minha dificuldade de falar de mim mesmo pois o perfil de cada pessoa é definido por sua capacidade em se repetir, (isso seria matéria de outra conversa) e ao jogarmos no ar nossas idéias, estamos expostos a todo tipo de críticas e até concordâncias. Não se trata de polemizar. Existem raras afirmações que sobrevivem a um escrutínio generalizado.

O quanto de cada um reflete a sua individualidade? A Psicologia se debruça sobre este tema e finca sua raízes nos academicismos forjados em séculos e séculos de rotinas científicas e suas conclusões não são tão conclusivas assim. O que dizer, se até os sonhos foram padronizados?

Já nos ensinam até o que sonhar, o que querer.

E se eu não for a pessoa que eu sempre achei que fosse, quem ou o que mais eu poderia ser?

O LARAMAMISMO Fui apresentado ao Laramamismo através do meu pequeno filho. O que seria aquilo? Nunca tinha ouvido falar. Me lembro que causo...