domingo, 11 de setembro de 2011

Vozes da Eternidade

Nós precisamos da história para situar nossos atos, nossas expectativas e motivos. A necessidade de corroborar as teorias mais acertadas urge em nosso senso comum. Tende-se a achar que a época em que cada um vive não encontra precedentes, deixando a impressão de que rumamos para o infinito munidos com o conhecimento sedimentado em verdades factuais.

Rabiscos na lousa do cosmos que ligeiramente se apagam. O que é isso que nos arrasta universo adentro (ou afora) e acorda em nós as crenças mais profundas? Que perguntas se sustentariam, que perguntas nem teriam a chance de serem formuladas? Resta-nos inventar um sentido e nos divertir com tudo isso.

As artes miram o infinito e acerta o coração humano, nos distrai das guerras, aveluda os sentimentos e pelo menos, tenta nos colocar em nosso devido lugar. As vozes da eternidade ecoam, e são ecos distorcidos de uma magnitude inconcebível e fazem parte de um outro lugar qualquer muito distante daqui. Este eco distante, que estranhamente, ajudamos a formar.

domingo, 10 de julho de 2011

Diário de uma Pessoa Desaparecendo

Eu já perdoei meus inimigos e aqueles que me fizeram mal. Pedi perdão àquelas pessoas que sei que machuquei, e aquelas que talvez tenha machucado sem saber. Agradeci do fundo do coração a todos que em algum momento de minha vida estendeu-me a mão. Estou em paz com a guerra que existe em cada ser humano, e já não reclamo do ruído causado pela infelicidade dos nossos. Entendi a esperança nos olhos como a beleza singular de cada um. Fui complacente com a ignorância por entender que é uma via de mão única e que não posso carregar as dores que não são minhas (as minhas já me bastam), nem protagonizar histórias das quais não faço mais parte.

Peço perdão por não desejar nada de quem não tem nada a oferecer, e também por não participar do jogo. E pelo meu silêncio quando o mundo clamava por palavras e palavras, e por estar errado a cerca de tantas pessoas e de ter me desencontrado de tantos amores.

E se por acaso, der por falta de algo que alguma vez julguei me pertencer, penso que talvez esteja em algum lugar escondido na minha alma e me assegurarei de não errar no sentimento. O tempo há de devolver as coisas ao seu devido lugar. E apoiado na sabedoria inerente a qualquer espécie, tudo que preciso é apenas enxergar a possibilidade de me harmonizar ao que se descortina ao meu redor. Simplesmente desaparecer na linha de frente do batalhão formado pelos que entenderam e resolveram levar sua vida adiante.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Tempo Que Ainda Temos

“Eu vi coisas que vocês nunca acreditariam. Naves de ataques em chamas perto da borda de Orion. Vi a luz do farol cintilar no escuro, na Comporta Tannhauser. Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva.” 

(Ridley Scott, Blade Runner - 1985)


Frequentemente penso nos que desistiram. Eles estão em toda parte, e não há muito o que conversar com eles. Alguns afirmam já terem dado a sua parcela de contribuição para a humanidade e, frente a isso, não há o que discutir. Eu pensava que este tipo de gente havia entendido sua própria trajetória, e seria uma resposta escapista ou no mínimo filosófica para continuar seguindo a vida à espera da morte.

Ainda há algo fazer, sempre, se você quiser. Se o modo como levamos nossa vida determina a sequência de nossas atitudes e realizações, como podemos pensar que o rumo de nossa existência esteja em outro lugar que não seja em nossas próprias mãos?

A maioria das respostas para as perguntas do dia de hoje estão no dia de hoje. Talvez amanhã, serão respostas vagas e fora de foco. Hoje é um pouco do tempo que ainda temos. Porque é tão difícil enxergar isso? Ninguém sente os dias, meses, anos, décadas trespassarem a impermanência de nossos pensamentos?

No meu parco conhecimento ocidentalizado de nosso tempo acelerado ao máximo, tranbordando novidades inúteis aos borbotões, ainda ouço a retórica intelectual se debatendo, agonizando e clamando liberdade e seu lugar ao sol.

Quem quer viver para sempre? Meu receio é de não sermos capazes de entender e se maravilhar com a dádiva que é a existência de cada ser humano em sua finitude, e que antes, muito antes de nós, tantos se debruçaram a tentar forjar a imortalidade nas crenças apenas para nos distrair de nosso verdadeiro desígnio que é de uma simplicidade absurda.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Torne seu mundo um lugar melhor para se viver

Certa vez, num engarrafamento que paralizou metade da cidade, estava dentro de um coletivo, e por curiosidade perguntei ao cobrador se ele sabia de algo sobre aquilo. Ele não foi muito gentil, e perguntou se eu não assisti o noticiário da TV. Disse a ele que  não tinha costume de assistir televisão, e ele achou que eu estava ironizando.

Sempre achei que as pessoas tem mais a perder que a ganhar gastando seu tempo em frente a uma TV. Com relação aos noticiários televisivos, na imprensa escrita pelo menos, você pode escolher ler ou não. Mas todos andam atrelando casos de vida ou morte a este acesso, que é impossível não se sensibilizar, e diga-se de passagem, é mais que necessário estar bem informado.

A evolução mais significativa da sociedade não aponta para a liberdade? Isso não pressupõe também estar livre de algumas informações, se assim quer a pessoa em questão? Mas como fica a contrapartida? Quando tomamos uma posição ortodoxa com relação a algo essencial, temos que arcar com as consequências quase sempre tão ortodoxas quanto, principalmente quando deturpam o sentido da palavra essencial.

Aparadas as questões de ponto de vista, vamos aos fatos. Não assisti a TV, entrei num engarrafamento, que me atrasou cerca de 1 hora e meia o meu compromisso, foi o preço que paguei naquele dia por estar desinformado. Sobrevivi.

Mas penso em quanta gente foi içada a outros sentimentos nada saudáveis por conta da alta exposição a esta mesma fonte. Se a vida é um jogo de compensações e o julgamento é uma câmara de valores altamente cambiáveis, às vezes o prudente mesmo é se calar, ou se for falar, é bom chegar a questão crucial.

A lenga-lenga vai continuar até não se sabe quando. Os meios de comunicação, atualmente cumprem uma outra função (não cabe discutir que função é essa), mas esqueceram de avisar ao cidadão esta mudança.

Impressiona-me a rapidez com que a vitrine do mundo muda de assunto, e quer uma resposta imediata. Pendem da alegria eufórica à depressão com assuntos bizarros e cruéis, passando por importâncias até, numa frenética exposição das variedades do comportamento humano a ditar a moda e as tendências de tudo o que foi, é e será. É isso que engolimos todo santo dia. É como se despejassem sobre nós diariamente, a história da humanidade até o exato ponto em que nos encontramos, vista pelo o seu lado mais sórdido, é claro.

Frequentemente preciso me lembrar quem sou, quando muitos querem mesmo é esquecer quem são e tantos outros querem ser o que não são. Que tal sermos mais honestos e divagar? Quando não houvesse notícias a ser dadas, os jornais não precisariam circular, o noticiário da TV e de outros meios de comunicação não precisariam ir ao ar e estes profissionais poderiam até ter uma pequena folga. Se bem que o jornalista poderia vir a público e convidar o telespectador a mudar de canal ou fazer algo mais útil.

E se ao terminar um novela, a TV presenteasse seus telespectadores com apenas uma semana de pausa, sem emendar desesperadamente já outra trama? Não. Este mundo não existe. Não são assim que as coisas funcionam.

E se a gente experimentasse não ocupar tanto a vida com a ilusão de que é preciso saber de tudo que acontece. Pense, ao menos pense que algo poderia ser diferente. Mas se no fundo de seu coração, esta diferença não te fizer muito bem, não se preocupe, sem saber, já deu a sua pequena parcela para tornar nosso mundo um lugar melhor para se viver.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Ilusão da Realidade

Podemos legislar sobre o que nem temos a certeza que existe. Podemos fundamentar uma sólida corrente de pensamento baseada em fantasmas e abstrações, e até mesmo provocar uma resposta plausível como um reflexo destas ações neste mundo além da matéria, ou como querem alguns, paralelo à matéria. Sonhamos o sonho da realidade enquanto o espírito engana-se e nem sabe distinguir, nem tampouco nos orientar neste labirinto?

Desçamos do pedestal.

Quando nuvens negras preenchem o vasto horizonte (me refiro ao evento da natureza), entendemos a quem temos que "pedir licença", afinal qual força é capaz de parar a tempestade que se aproxima? Qual força é capaz de impedir que o dia amanheça? Qual força é capaz de fazer o tempo parar? Neste ponto, tudo o que fantasiamos cai por terra. Tudo isso permanece imutável ao nosso nível, e finalmente começamos a entender que todos nós estamos interligados a um destino comum. Impotentes frente a grandiosidade do inescrutável, lançamos um olhar temente para o horizonte e a matéria estelar pensante que nos tornamos não aceita. É muito e ao mesmo tempo, tão pouco.

Não há nada que possamos fazer, não tememos o fim, tememos a constatação recheada de perplexidade de nem conseguir arranhar o entendimento por trás da existência de todos nós.

Os mais sábios dos seres humanos são cegos que inventaram  para si mesmos a redoma da realidade e conseguiram nos convencer, argumentando que não existe explicação melhor para o que aqui se apresentou, se apresenta e se apresentará.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Terceiro Espelho

A primeira vez que vi meu reflexo, não me reconheci na imagem invertida do espelho. Ainda era muito novo e não sabia que aparência tinha. Apenas depois de alguns movimentos e algumas caretas, dei conta que se tratava de mim mesmo. Foi assim que tirei a primeira conclusão sobre como eu achava que era e como eu realmente era. Mas o que realmente somos nenhum espelho do mundo pode nos mostrar. Este conjunto confuso que vamos nos tornando e nosso reflexo acompanhando de perto a aventura de nossas vidas.

A segunda vez que vi meu reflexo, continuei ainda não me reconhecendo. O tempo havia passado, e mais uma vez eu me distanciei do que um dia achei que era. Um distanciamento entre o que continuava achando e o que havia de fato. Mas, o que havia de fato? Já conhecedor da natureza do espelho que não deveria refletir o que eu queria, pareceu-me agradável que parasse de me olhar neste espelho e procurasse um outro que metamorfoseasse melhor meus pensamentos. Empreendi uma viagem à procura desta espécie de "espelho-oráculo" e ao me deparar com o singular tipo de reflexo que emitia, senti que não estava pronto para suportar o que ali me apresentava, tanto que não me senti refletido ali.

A terceira vez que vi meu reflexo, olhei o fundo dos olhos e percebi as janelas infinitas da existência e este mesmo reflexo me fitou perplexo a me perguntar o que fazia ali buscando respostas exatamente no local onde as perguntas germinam.

O LARAMAMISMO Fui apresentado ao Laramamismo através do meu pequeno filho. O que seria aquilo? Nunca tinha ouvido falar. Me lembro que causo...